terça-feira, 25 de novembro de 2014

Onde começa o amor?

Imagem via Pinterest
Quem nunca passou pelo nascimento de um filho pode até acreditar que, juntamente com aquele ser, nasce, de imediato, um amor imensurável. Ali mesmo, na sala de partos. Como se bastasse bater os olhos naquele bebé, que respira pela primeira vez. É isso que nos dizem. É isso que muitas mães continuam a apregoar que sentiram. Desculpem-me, mas isso são balelas. Fica bonito dizer que amamos os nossos filhos desde o primeiro minuto? Fica, mas eu não lhe chamaria amor. Às custas desse clichê, são muitas as mulheres que ficam a questionar-se, que se sentem pessimamente, que duvidam daquilo que serão enquanto mães, porque, efectivamente, não sentiram esse amor imensurável de que se fala, assim que ouviram aquele primeiro choro. 

Ao primeiro choro da Margarida, senti, acima de tudo, alívio. O maior alívio da minha vida! Alívio por ela estar bem, alívio por termos conseguido. Senti uma imensa e inebriante felicidade, que dificilmente se consegue explicar. Senti que estávamos, os três, a viver um momento histórico, na nossa história. Que era um privilégio, o maior de todos. Que, a partir daquele momento, tudo faria para assegurar o bem estar daquele ser, até ao fim dos meus dias. 

O nascimento da Margarida fez-me lembrar, mais que nunca, que não passamos de animais. Não nasceu um amor imediato e imensurável. Mas nasceu, juntamente com ela, a minha total disponibilidade para aquele ser. Uma capacidade de abnegação que desconhecia. Um encantamento crescente. Uma animalesca vontade de cuidar, lamber a cria, alimentá-la, reconfortá-la, admirá-la. Mas tudo isto sem saber muito bem porquê. Afinal, como poderia amar um ser que, mesmo tendo crescido dentro de mim, acabara de conhecer? Amar porque é suposto? 

Não amei a Margarida de imediato. Mas um dia, ainda na gravidez, pensei 'e se correr alguma coisa mal e apenas uma de nós se puder salvar?' (viva as hormonas!). Nesse momento, senti que preferia, sem qualquer hesitação, que se salvasse a bebé. Aquele ser que eu apenas sentia mexer cá dentro. Senti essa escolha com tanta verdade e convicção, que me assustou, de tão nova que era a sensação. Nesse momento, tive a certeza que estava preparada (dentro do que é possível estar), para ser a mãe da Margarida.

O amor, esse, foi-se construindo, como qualquer amor. Rapidamente passei a ser viciada na Margarida. Era uma necessidade animal de tocar, cheirar, acalmar, cuidar, que qualquer mãe bem conhece. Dava comigo a pensar que se, por algum motivo, me visse privada daquele bebé (outro grande viva para as hormonas!), enlouqueceria. O primeiro mês foi a fase do encantamento. A partir daí, com os primeiros sorrisos, veio a paixão. Uma paixão que galopava, de cada vez que o sorriso da Margarida me fazia sentir abraçada por dentro. Sem que me apercebesse muito bem disso, o amor, o tal imensurável, cá se foi instalando, graças a tantos momentos felizes, mas, também, a episódios mais delicados que juntos superámos. Graças a isso e a tudo o resto que desconheço. Um amor que cresce por tudo e por nada.

O amor que se sente por um filho deve ser das coisas mais difíceis de colocar em palavras. Sei apenas dizer que é um amor que me dá vontade de chorar. Às vezes, tantas vezes, olho para ela e os meus olhos enchem-se de água. E, ao escrever isto, sinto vontade de ir a correr ao quarto, abraçá-la e dar mais um bocadinho de beber a este amor, com aquele sorriso, aqueles olhos brilhantes, aquele cheiro - mas iria acordá-la e isso é capaz de não ser boa ideia. E é quando penso neste amor que me faz sentir tão viva, de tanto que enche a alma, que mais tenho certeza que nunca poderia chamar amor ao que senti quando a Margarida nasceu. 

A Margarida tem apenas 7 meses e meio e eu juro que não faço ideia onde irá caber mais deste amor, que cresce de forma colossal todos os dias. Mas sei, com toda a certeza, o que irei fazer com ele. Ou não fosse ela a minha filha.

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