terça-feira, 18 de novembro de 2014

Aninhar, abrigar, aconchegar

Vicente Romero Redondo

Sobrevivemos àquela que foi, muito provavelmente, a pior semana destas últimas trinta e duas. E, nesta última semana, entre sonos trocados e agitados, a Margarida descobriu que gosta de dormir no aperto dos meus braços. E eu descobri que este furacão, tão sedento de mundo, tão repleto de energia, às vezes, também acalma. Aos sete meses, a Margarida parece começar a precisar que lhe mostre que sim, que também é bom acalmar, contemplar, desfrutar, deixar o mundo lá fora à espera e perdermo-nos em momentos mágicos. E eu descobri, nesta semana de tanto cansaço e preocupação, que, apesar de adorar ser mãe de uma bebé tão cheia de vida e de vontade de viver, sentia falta de a ver relaxar e sucumbir ao cansaço, nos meus braços. Rosto com rosto. Respirações fundidas. Batimentos sincronizados. Dois corpos na mesma temperatura. A mais pura intimidade. 

Esta semana serviu para me fazer sentir a urgência de saborear cada pedaço da Margarida. Ela está a crescer, cada dia mais curiosa, mais excitada pela quantidade de novidades. E teve de vir o raio de uma doença para a fazer abrandar, desinteressar-se, querer aninhar com a mãe. E a mãe, ainda a tentar perceber o que se estava a passar, abrigou-a de coração cheio, surpreendida. Uma e outra vez. Ambas percebemos que gostamos. Muito. Tanto. Por isso, hoje, assim que voltámos da creche, foi hora de aninhar e esquecer o mundo lá fora, que grita por ela. Garanto que amanhã será igual. E depois. Sempre que possível. Sempre que possível, irei tapar-lhe os ouvidos com abraços apertados, deixar o mundo em mute e fazer com que aqueles olhos curiosos pestanejem mais lentamente. Mas sempre ciente de que este meu pequeno furacão estará apenas a repor energias para um despertar electrizante, de sorriso rasgado e olhos brilhantes, como que a dizer "Mundo, estou de volta! O que tens para mim desta vez?".

Mais que uma otite, acreditamos que, pelo meio, se meteu, também, um salto de desenvolvimento. A Margarida está a passar, à maneira dela, por aquilo a que chamam 'angústia da separação'. Esta semana foi muito mais do que tratar daquele corpo pequenino, que não sossega. São as emoções e percepções que se alteram profundamente. E o resultado é um pequeno furacão que é, também, uma flor, com uma crescente necessidade de atenção. E de beijinhos nas mãos que se encostam aos meus lábios. E  de infindáveis sorrisos e abraços. E de cantigas e danças.
Agora, a Margarida não se limita a querer descobrir o mundo - ela quer que o façamos juntamente com ela. E há lá coisa que nós mais desejemos?!

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